População LGBTQIA+ ainda enfrenta preconceito no acesso à saúde no Brasil

Aspectos como identidade de gênero e orientação sexual ainda são tabus e encarados com ignorância – quando não com violência – pela sociedade. A medicina, por muitos anos, foi a responsável por ratificar esse discurso, classificando como enfermidades condições meramente sociais, como a sexualidade e expressão de gênero de alguns indivíduos. Esse preconceito, muitas vezes disfarçado de medo e cautela, acaba por transbordar para a oferta de serviços na saúde pública para essa população.

Existe uma defasagem substancial na formação de profissionais de saúde que consigam lidar com as nuances dessa comunidade e suas necessidades específicas, o que acaba por limitar o acesso de pessoas trans, travestis, gays, lésbicas, bissexuais e outros ao sistema de saúde, tanto pública quanto privada. Como exemplo dessa exclusão compulsória pode-se trazer à tona como a comunidade LGBTQIA+, em especial os homens gays e travestis, ainda carregam fortemente o estigma de serem “disseminadores” de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), e por conta disso, até 2020 eram impedidos de realizarem doação de sangue se assim se identificassem nos postos de coleta.

É importante também relembrar a força-tarefa conduzida pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro para demonizar e incitar o ódio contra a população LGBTQIA+, envolvendo não só a desmoralização desse grupo através de declarações preconceituosas ou ataques envolvendo retóricas conservadoras, mas um desmonte das políticas de saúde pública voltadas à essas pessoas, como a suspensão da profilaxia de prevenção da transmissão do HIV e outras ISTs oferecida gratuitamente pelo SUS, um programa que no passado fez com que o Brasil se tornasse referência na prevenção deste tipo de doença.

O novo governo ascende uma luz de esperança. A produção da PREP (profilaxia pré-exposição) cresceu 300% pelo SUS em agosto e, na última quarta-feira (23/08), o crime de homofobia – que segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB) em parceria com a Aliança Nacional LGBTI+, acarretou em 2021 uma morte notificada dessa população a cada 29 horas – passou a ser enquadrado no crime de injúria racial, possibilitando mais ferramentas, tanto para as vítimas quanto para a justiça, de combater e diminuir o preconceito no país.